Pé na Terra

UTOPIA por um Mundo melhor é possível (e urgente). Fazer e acontecer é desafio que nos transforma em atores de uma revolução.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A Folha e o neocolonialismo petroleiro


Com o título de “TV Companheira”, o jornal Folha de São Paulo – que tem o nome marcado por ter defendido e colaborado com operações da ditadura em torturas e mortes de prisioneiros políticos  - publicou artigo de Eliane Cantanhede tentando atingir, sem o lograr, a credibilidade jornalística da Telesur, La nueva televisión del sur, em seu esforço de cobrir a crise na Líbia.

Há muitas lições a partir da precária nota da jornalista. Primeiramente, está escancarado que a grande mídia comercial brasileira, seguindo orientações dos conglomerados internacionais midiáticos, editorialmente controlados pelas indústrias bélicas, petroleiras e a ditadura financeira, sempre protegeram os ditadores do Oriente Médio que serviram e ainda servem a estes interesses. A Folha de São Paulo está dentro deste leque de proteção aos “ditadores amigos”.  Assim é que durante mais de 30 anos protegeu Mubaraki, tratando-o como o árabe moderado, porque transformou o Egito em cúmplice do massacre do povo palestino por Israel, com o apoio de Washington. Durante 30 anos a Folha de São Paulo  jamais cobrou eleições diretas ou democracia no Egito, mas, revelando a imensa hipocrisia da sua linha editorial de dois pesos, duas medidas, engajou-se na campanha dos oligopólios midiáticos mundiais contra o governo da Venezuela que, em 12 anos, eleito pelo voto, realizou mais de 15 eleições, plebiscitos e referendos livres, vencendo 14 deles e respeitando democraticamente o único resultado eleitoral adverso  registrado.

“Ditaduras amigas” foram protegidas

A reportagem de Telesur está sim na Líbia, como esteve no Egito e na Tunísia, para oferecer uma cobertura com linha editorial diferenciada, sem qualquer influência do poder petroleiro comandado pelos países imperialistas. Telesur não descobriu somente agora que Mubaraki era um ditador e que saqueou recursos do povo egípcio, bem como seu comparsa Ben Ali, tunisino, sempre protegidos pelos grandes países imperiais como EUA, França, Inglaterra etc., por se transformarem em peões da política que facilita a intervenção militar imperialista no mundo árabe, com o óbvio objetivo de rapina sobre suas imensas riquezas energéticas, da qual são tão dependentes.

A linha editorial que protegia Mubaraki, era a mesma que sempre condenou Kadafi. Não supreende. Kadafi nacionalizou a riqueza petroleira da Líbia e usou esta extraordinária receita para transformar o país , hoje possuidor do mais elevado IDH da África e dos mais elevados no mundo árabe. Este exemplo se chocava com os interesses imperialistas. Preferiam que Kadafi fosse como a oligarquia que reina sobre a Arábia Saudita, a mais maquiavélica das ditaduras da região, sob a proteção da mídia comercial internacional, inclusive a Folha de São Paulo. E sem uma linha sequer da articulista que esboce qualquer reivindicação democrática para este país, cujo petróleo é rigorosamente controlado por empresas dos EUA. Portanto, rigorosamente diferente da Líbia, onde o petróleo foi estatizado permitindo uma elevação do padrão de vida do povo, com progressos reconhecidos internacionalmente nos serviços públicos e gratuitos de educação e saúde, com uma renda per capta e um salário mínimo que superam em muito os registrados no Brasil e na Argentina. Estas informações nunca circularam nem no fluxo internacional da mídia comandada pelos poderes do petróleo, das armas ou do dinheiro, muito menos aqui na submissa Folha de São Paulo.
Ao contrário desta linha editorial complacente com os crimes que se comentem contra os povos árabes, em particular contra o povo palestino, Telesur , em sua curta existência, pouco mais de 5 anos de vida, procura revelar, com critérios jornalísticos,  a falsidade e hipocrisia dos discursos “democráticos” que servem sempre de parâmetros para as coberturas que tentam esconder sob o palavreado democrático, o objetivo fundamental que esta mídia cumpre: dar suporte e favorecer o controle total das riquezas energéticas do Oriente Médio pelos trustes imperialistas. É por esta razão que a Folha de São Paulo tenta, inutilmente, atacar a Telesur, porque questiona e se diferencia do jornalismo obediente ao poder bélico-petroleiro que tantas vidas ceifa na região, inclusive na própria Líbia, tantas vezes bombardeada, agredida e boicotada pelos países membros da Otan. É a subserviência a esta política imperial que leva a Folha e sua articulista a afrontarem as políticas externas soberanas que os países do eixo sul-sul estão desenhando, com o objetivo de libertarem-se das algemas da OTAN, inclusive postulando a criação de uma Organização do Tratado do Atlântico Sul, proposta defendida por vários países sistematicamente enfrentados pela linha editorial da Folha, inclusive por Kadafi, certamente, uma das tantas razões que o leva a ter sido sempre condenado pelos imperialistas, pela ONU, pela OTAN.  Vale lembrar que Kadafi teve sua residência destruída por um bombardeio ordenado por Bill Clinton, no qual morreu sua filha recém-nascida. A articulista escreveu algum protesto na época? Ou lamentou que a pontaria poderia ter sido mais certeira?

Hipocrisia editorial

Mubaraki  foi protegido e elogiado por este jornalismo tipo Folha de São Paulo  -  que, aliás, não chamava Pinochet de ditador, mas de presidente  -  porque comandou o retrocesso das conquistas socioeconômicas que o Egito havia alcançado durante a Era Nasser. Tal como aqui a Folha serve aos interesses estrangeiros e de seus prepostos internos que operaram para demolir as conquistas da Era Vargas; o elogio e a tolerância para com a ditadura de Mubaraki deve-se ao fato dele desconstruir  o nacionalismo revolucionário de Nasser, aliado da Líbia e da Síria, colocando o Egito na posição de ser um vergonhoso coadjuvante da macabra política israelense na região,  a serviço da indústria petroleira imperial. Mas, os milhões de egípcios nas praças estão escrevendo outra história para aquele país!
Telesur conta esta história. Faz jornalismo para revelar o direito histórico da luta dos povos árabes por sua independência, por sua soberania. É por isso que incomoda tanto. É por isso que agressão da Folha não surpreende, faz parte da blitz midiática internacional que sustenta o intervencionismo militar dos grandes países imperialistas. Esta mídia atua como os clarins que anunciam e clamam pela guerra!
Independente do desfecho que esta crise na Líbia produzirá, a esta altura imprevisível,  não há como não perceber  a imensa hipocrisia jornalística dos que  se calam diante dos sanguinários bombardeios que estão caindo agora mesmo sobre a população civil no Afeganistão, ilegalmente ocupado pelos EUA, ou no Iraque, onde mais de um milhão de vidas foram dizimadas a partir de uma guerra iniciada por meio de  grosseiras falsificações de notícias sobre a existência de armas químicas naquele país, fraude jornalística que a Folha de São Paulo  endossou, o que lhe retira qualquer moral, juntamente à assessoria que prestou à ditadura militar no Brasil, para reivindicar democracia ou clamar por direitos humanos.

Colônia petroleira
Provavelmente, a crise atual na Líbia tenha também explicação pelos erros cometidos pelo seu governo, entre eles, provavelmente o mais grave,  o de ter realizado inesperados e improdutivos acordos com os EUA, com a Inglaterra, com o FMI, inclusive dando início a medidas de privatização injustificáveis e abrindo mão, unilateralmente, do programa de energia nuclear, bobagem que o Irã e o Brasil, mesmo sob pressão, indicam não estarem dispostos a cometer. As concessões de Kadafi aos patrocinadores da morte e de opressão contra os povos iraquiano, afegão, palestino, entre eles Bush e Blair, aprofundou, certamente, os conflitos internos, agravando as disputas tribais, facilitando a infiltração dos que nunca aceitaram a nacionalização do petróleo líbio. Agora, a Folha de São Paulo, que se crê tão moderna, apresenta-se aliada aos que levantam novamente a bandeira da Líbia do Rei Idris, demonstrando preferir   operar para o retrocesso histórico da república à monarquia, o que faria da Líbia uma colônia petroleira controlada pelos conglomerados anglo-saxões.

Enquanto as grandes redes oligopólicas de tvs comerciais operam para justificar, auxiliar e assessorar a pilhagem dos recursos energéticos dos povos,  -   por isso assumiram editorialmente as mentiras que justificaram a guerra de rapina contra o Iraque  -    Telesur coloca seu jornalismo a serviço do direito dos povos de conhecerem na íntegra a versão objetiva dos fatos, inclusive dando voz aos povos que lutam, que buscam construir modelos de sociedade em que a soberania sobre seus recursos e o seu uso em benefício da população sejam sagrados. Telesur tem consciência de quão árdua é a meta de fazer um jornalismo não controlado pelos oligopólios da guerra, do dinheiro e do petróleo. Mas, desta meta não se afastará, pois foi como expressão dos povos que se rebelam na América Latina contra a dominação imperial que nasceu e que assumiu como bandeira o princípio “ O nosso Norte, é o Sul”

Beto Almeida, Membro da Junta Diretiva da Telesur

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Regulamentação JÁ!

por Narinho Costa

                Para refletir...

                Mais um tema que devemos levar adiante e aprimorar o nosso debate. O que entendemos por imprensa livre???
                   
                Nosso maior formador de opinião são os meios de comunicações, como não regulamentá-los??? O Flamengo tem a maior torcida do Brasil e 80% de seus torcedores nunca foram ao Rio de janeiro!!!

                Os médicos tem o CFM, os advogados tem a OAB, engenheiros e arquitetos o CREA e os jornalistas tem o que p/ serem regulamentados???

                A minha liberdade vai até onde começa a de meu semelhante, e para uma VEJA, p/ um Mainardi e para aquele comentarista de Sta. Catarina que disse ao vivo na Globo de lá, “malditos miseráveis que agora podem comprar um carro” não extrapolaram a sua liberdade???

                A imprensa tem que ser livre sim, mas tem que ser séria, tem que educar ao invés de emburrar...

                Não podemos viver a vida inteira sob os interesses econômicos desses meios de comunicações, onde fazem tudo pensando simplesmente no seu lucro e nos seus interesses  políticos/financeiros, onde colocam um jogo de futebol as 22 horas, cooptam os políticos e pronto, como aconteceu com os vereadores de SP, que haviam votado uma lei que não poderia ter jogos de futebol após as 21 h, foi aprovado por ampla maioria em primeiro turno e pasmem, no segundo turno o poderio da GLOBO, reverteu a situação.

                Quando entra o debate de um órgão regulador de imprensa, a mídia leva p/ um debate político de direita e esquerda, e os menos avisados, acham um absurdo, que querem retalhar e manipular a imprensa, pelo amor de Deus.

                Em todos nossos debates políticos  as opiniões convergem sempre no sentido que p/ o nosso país se desenvolver precisamos de educação, então, nossos filhos ficam 5 horas dentro de uma sala de aula p/ aprenderem e depois tem um bom tempo livre  pra ficarem ”emburrando” frente a uma concessão pública que são nossos meios de comunicações, principalmente com uns programas de televisão de baixíssima qualidade e com interesses obscuros???

                Nos países desenvolvidos em sua maioria, existem órgãos reguladores da imprensa, por que aqui no Brasil fazem disso um bicho de sete cabeças, que isso é coisa da esquerda???

                Vamos parar de “emburrar” e de se submeter aos interesses econômicos de poucas famílias (Marinhos, Frias, etc.) e melhorar as nossas programações e informações.

                Até hoje essa nossa mídia nos informa que a Venezuela é uma ditadura de esquerda, só não informa que nesses últimos 12 anos seu presidente passou por 3 eleições  e 4 plebiscitos e foi vitorioso em todos, e em contrapartida essa mesma imprensa não informa as verdadeiras ditaduras de direita impostas a mais de 30 anos com o aval total e irrestrito dos Estados Unidos, onde os povos Árabes, depois de tanto sofrimento (fome, desemprego) se rebelaram contra essas tiranias. Se não fosse assim, a grande maioria dos brasileiros não saberiam nada sobre esses fatos da Tunísia, Egito e etc.

                Todos países que se tornaram nacionalistas, valorizando suas riquezas minerais e vegetais, no nosso caso (Pré-sal, Amazônia),  a Vale do Rio Doce já havia sido doada pelo FHC, são considerados opositores dos americanos e com isso criticados ferozmente pela nossa mídia.

                Os maiores fabricantes de armas do mundo e conseqüentemente de guerras, são os Estados Unidos, precisam de muito petróleo, se os países Árabes se tornarem nacionalistas, como a grande parte da América do Sul, onde os Americanos vão buscar petróleo mais facilmente???

 Na realidade já haviam cooptado os nossos neo liberais, que já estavam entregando tudo de mão beijada p/ eles (PETROBRAX), ou vocês acham que a turma do FHC não sabia da existência do Pré-sal???

Podemos ter posicionamentos políticos diferentes, mas não podemos tapar o sol com a peneira, algo precisa ser feito.

                A mídia serve p/ informar e educar, não p/ emburrar.


Atenciosamente

Narinho Costa

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Dacar precisará de retorno

Ane Cruz
Feminista do PT/RS
“As mulheres devem e podem tomar posição em relação à condição que lhes é atribuída.” Awa Thiam,  escritora do Senegal,1978.

            Mais de 120 países desembarcaram em Dacar/Senegal entre os dias 6 e 11 de fevereiro de 2011. Todos estes países protestando "Por um mundo sem fronteiras" e "não à expulsão dos imigrantes, sim à justiça social".
            Começava assim a 11ª edição do Fórum Social Mundial (FSM), eram aproximadamente 20 mil pessoas pela avenida naquele domingo, 6 de fevereiro caminhando com um sol escaldante e escassez de água... no caminho se encontrava muitos brasileiros e brasileiras vindos de toda parte, eram gaúchos, paulistas, cariocas. Parecia mais que estávamos em Belém, quando aconteceu a última edição do FSM no Brasil em 2009 e em todos os idiomas gritavam junto ao povo africano e aos demais povos: “por um mundo mais justo, sem violência e equitativo”.
            O cenário era um imenso e fértil terreno da diversidade social mas sobretudo marcado pela cor negra da pele e pelo modo de vestir. Eram muitos panos coloridos, típicos de um povo africano e que pintavam os mais de três quilômetros percorridos até a Universidade Cheikh Anta Diop de Dacar.
            A língua mais falada no Senegal é wolof, mas era em francês, espanhol, inglês, árabe, português e muitos outros idiomas que os participantes gritavam em voz alta que "outro mundo é possível". Além disso, criticavam também o capitalismo, que eles responsabilizaram pela pobreza de milhões de pessoas no mundo.
No decorrer da caminhada encontrávamos caminhões com alto-falantes com música folclóricas que acompanharam a manifestação, grupos de vários países fizeram os participantes dançarem e transformaram a caminhada mais amena em ritmo de uma verdadeira festa africana.

As mulheres do Senegal
            É habitual ver as mulheres com seus rostos cobertos e suas vestes fechadas dos pés ao pescoço, assim como é “normal” presenciarmos mulheres carregando seus filhos nas costas e saber que mulher não pode sair desacompanhada em via pública. Além disso, é “normal” que em países da África a poligamia masculina é permitida e que atualmente mulheres e meninas venham a morrer ou sofrer seqüelas irreversíveis por conta da castração genital.
            Mas esta história, mesmo que em passos lentos, teima em se modificar. No Senegal, o envolvimento das mulheres para sair da marginalização e da discriminação aconteceu por meio das associações e organizações femininas oriundas da elite intelectual. E as primeiras feministas vieram da Escola Normal das Jovens Mulheres de Rufisque (é desta escola que saíram as primeiras mulheres escritoras do Senegal) e organizaram-se para criar estas associações[1]. E assim foi por muito tempo, a história sendo contada e recriada pelas escritoras, as quais fazem parte das primeiras gerações que, através dos quadros desenhados sobre a sociedade, mostraram, com palavras, o sofrimento vivenciado pelas mulheres na sociedade senegalesa, esta realidade foi mostrada na 11ª Edição do FSM em Dacar.

E a luta tem de continuar...
            Somente em 1978 com manifesto de Awa Thiam, escritora e ativista, foi que as mulheres senegalesas começaram a questionar o patriarcado que sufocava as mulheres e à elas era destinado um papel secundário na sociedade. Foi por causa deste movimento de igualdade e a consideração dos direitos das mulheres que o Senegal vota uma lei contra as mutilações genitais femininas em 1999, vinte anos depois.
            Foi com a Conferência africana sobre as mulheres em 1994 e, sobretudo, a de Beijing em 1995, que os movimentos de mulheres começaram a introduzir em seus programas as questões críticas que impediam a luta das mulheres senegalesas. 
            O Senegal, de acordo com as disposições da Convenção para a eliminação de todas as formas de discriminação em relação às mulheres (CEDAW), adotou a lei nº 99/05 de 29 de janeiro de 1999, relativa à penalização do assédio sexual, das mutilações genitais femininas, das violências conjugais, da pedofilia e ao reforço das sanções quanto ao estupro e o incesto. Esta lei constitui uma vitória do movimento das mulheres não só no Senegal, mas no mundo todo.[2]
            Se por um lado, Senegal ratificou quase todas as Convenções e Tratados relativos à proteção da pessoa, por outro, isto não se traduz na vida real. A fome e a miséria ainda fazem parte do cotidiano de milhões de mulheres e crianças.
Da vida real às contradições

            “Nós respeitamos as mulheres” disse o Presidente do Senegal Abdoulaye Wade em cerimônia realizada com o ex Presidente Lula no Fórum Social Mundial. Verdade ou não, no Senegal, a representação das mulheres em instituições políticas ainda é muito baixa. As mulheres constituem mais de 52% da população total, de acordo com as estatísticas oficiais do país. Na Assembléia Nacional, só há 33 deputadas, representando 22% do total. Só há sete mulheres presidentes de câmaras num total de 107. Praticamente não existem vereadoras nas zonas rurais e 12 mulheres compõem os cargos de Ministras no Governo Wade, incluindo um Ministério de Gênero e outro da Igualdade.
            Mesmo assim, considerando que 95% da população senegalesa é muçulmana, os Deputados da Assembléia Nacional por arrasadora maioria aprovaram em maio do ano passado, a lei de igualdade absoluta entre homens e mulheres em todas as instituições cuja escolha seja parcial ou total, ou seja, as listas de candidatos para as instituições cuja eleição seja parcial ou total, serão compostas alternativamente por pessoas de ambos os sexos determina a Lei da Paridade de Gênero.  A legislação prevê que no caso de o número de membros da instituição ou organismo for ímpar, a paridade se aplicará ao número par imediatamente inferior.
            Por iniciativa do Presidente Wade, as portas do Exército e da Gendarmaria do Senegal foram abertas às mulheres, que foram também admitidas em várias outras instituições reservadas até agora aos homens, segundo informou a Ministra de Gênero e Relações com as Associações de Mulheres Africano e Estrangeiras, Sra. Awa Ndiaye.
            A cidade de Dakar nasceu a partir de um forte francês, substituindo Saint-Louis como capital do país em 1902. Foi também a capital do Mali desde 1959 a 1960, tornando-se mais tarde a capital do Senegal.
            Além disso, é importante lembrar que em Dacar se localiza a Ilha de Gorée, que durante quase 400 anos, entre os séculos XV e XIX[3], o local foi o maior centro de tráfico negreiro para a América.  De Gorée saíram 15 a 20 milhões de africanos – homens, mulheres e crianças - para servir de mão de obra escrava em toda costa oeste dos Estados Unidos, no Brasil e no Haiti. Na casa hoje conhecida como “a Casa dos Escravos” existe um lugar chamado “a porta sem retorno”, pois muitos que passaram por ali sequer desembarcaram com vida do outro lado do Atlântico.
            No ano de 1978, que a UNESCO passou a considerar este lugar como  Patrimônio da Humanidade para ser lembrado pelo mundo inteiro como um exemplo de exploração de um povo, a não ser seguido.
            Para o povo senegalês que viveu uma semana de euforia, de batuques de todas as sonoridades e de todas as cores e raças, de encontro com todos os povos, que ecoaram gritos de ordem de todas as tribos, é importante que o mundo lhes dê retorno de um outro mundo possível. Sem a violação dos direitos humanos e com liberdade para as mulheres.


[1] Aminata Dieye
[2] Ministère de la Famille, du développement social et de la Solidarité Nationale (2003). Evaluation Finale du Plan d’Action National de la femme.Dakar
[3] Fonte: www.africa.jocum.org.br

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Já pensou encontar R$ 8,5 bilhões jogados no lixo?


terça-feira, 15 de fevereiro de 2011 -
Blog Os Amigos do Presidente Lula - 
 
 
 
A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, estimou que o Brasil perde R$ 8,5 bilhões por ano por falta de reciclagem de materiais jogados no lixo.
 
Essa é uma das melhores oportunidades que existe para inclusão social de milhares de catadores de materiais recicláveis, que ainda trabalham em situação precária.
 
Para aproveitar esta oportunidade, desde o início do governo Lula que há uma política de valorização deste importante trabalho, com o apoio estatal, linhas de crédito do BNDES, incentivos fiscais e assistência técnica.
 
Na segunda-feira (14), mais um passo foi dado, com mobilização de 16 ministérios e nove instituições federais no Comitê Interministerial de Inclusão Social e Econômica dos Catadores de Materiais Reciclaveis.
 
A ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, prevê que o fortalecimento do trabalho dos catadores “pode ajudar muito na erradicação da pobreza até 2014, meta da presidenta Dilma Rousseff”.
 
Izabella Teixeira também vê as muitas soluções na integração dos ministérios: “... alinha agendas ambientais, sociais e econômicas, que vão gerar renda, qualificação profissional e inclusão social... é um trabalho que envolve uma prioridade que diz respeito ao povo brasileiro e não à elite”.

 
Indústria da reciclagem ainda explora mão-de-obra precarizada
 
O coordenador do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Reciclaveis, Alexandre Cardoso, conta que os catadores trabalham até 16 horas por dia e aqueles que estão organizados em associações já chegam a 800 mil.
 
Ele criticou a exploração das indústrias de reciclagem e disse que a maioria dos catadores não consegue ganhar nem um salário mínimo. Apenas 10% dos recursos movimentados pelo setor ficam com os catadores.
 
Um dos líderes do movimento nacional e catador desde os 12 anos, no Rio Grande do Norte, Severino Lima Junior, diz que os trabalhadores que lidam com materiais reciclaveis no Nordeste estão entre os mais vulneráveis do Brasil. “Lá, temos grande dificuldade com a comercialização dos produtos, pois os centros industriais estão no Sul e Sudeste, temos muitos atravessadores”.

 
Prefeitos que deixam catadores excluídos não merecem o voto dos cidadãos em 2012
 
Tereza Campello, afirmou que todos os municípios do país "precisam se engajar na preocupação social e econômica de reciclar materiais".
 
Na última confraternização de natal com os catadores, o presidente Lula cobrou enfaticamente que os prefeitos (incluindo Kassab) assinem convênios com catadores. São as prefeituras que contratam os serviços de coleta, geralmente concentrados em polêmicos contratos com grandes empreiteiras.
 
Mas os prefeitos podem fazer a diferença se contratarem várias cooperativas, muitos catadores, em vez de só contratarem poucas empreiteiras, às vezes multinacionais. Faz bem para o meio-ambiente, e faz bem erradicando a pobreza na cidade.
 
Naquela confraternização os catadores premiaram com o título "amigo dos catadores" os prefeitos que contrataram serviços deles pela prefeitura. Eis o vídeo:



 
 
A instalação do comitê é mais um compromisso cumprido pela Presidenta Dilma
 
O comitê interministerial foi instituído pelo Decreto 7.405, de 23 de dezembro de 2010, ainda no governo Lula, durante confraternização de natal como os catadores, com a presença de Dilma, e implantado na segunda-feira (14).
 
Membros do comitê: Ministérios do Meio Ambiente, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Educação, Saúde, Trabalho e Emprego, Ciência e Tecnologia, Cidades, Desenvolvimento Indústria e Comércio, Previdência Social, Turismo, Orçamento e Gestão, Minas e Energia, Fazenda, Secretaria Geral da Presidência, Secretaria de Direitos Humanos, Funasa, Ipea, BNDES, CEF, Banco do Brasil SA, Fundação Banco do Brasil, Fundação Parque Tecnológico Itaipu, Petrobras, Eletrobras, Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis.
 
(Com informaçõs das agências)
 
 

domingo, 13 de fevereiro de 2011

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Uma esperança: A Era do Ecozóico, artigo de Leonardo Boff

Publicado em fevereiro 8, 2011 por HC


Quem leu meu artigo anterior ‘O antropoceno: uma nova era geológica’ deve ter ficado desolado. E com razão, pois, quis intencionalmente provocar tal sentimento. Com efeito, a visão de mundo imperante, mecanicista, utilitarista, antropocêntrica e sem respeito pela Mãe Terra e pelos limites de seus ecossistemas só pode levar a um impasse perigoso: liquidar com as condições ecológicas que nos permitem manter nossa civilização e a vida humana neste esplendoroso Planeta.
Mas, como tudo tem dois lados, vejamos o lado promissor da atual crise: o alvorecer de uma nova era, a do Ecozóico. Esta expressão foi sugerida por um dos maiores astrofísicos atuais, diretor do Centro para a História do Universo, do Instituto de Estudos Integrais da Califórnia: Brian Swimme.
Que significa a Era do Ecozóico? Significa colocar o ecológico como a realidade central a partir da qual se organizam as demais atividades humanas, principalmente a econômica, de sorte que se preserve o capital natural e se atenda as necessidades de toda a comunidade vida presente e futura. Disso resulta um equilíbrio em nossas relações para com a natureza e a sociedade no sentido da sinergia e da mútua pertença deixando aberto o caminho para frente.
Vivíamos sob o mito do progresso. Mas este foi entendido de forma distorcida como controle humano sobre o mundo não-humano para termos um PIB cada vez maior. A forma correta é entender o progresso em sintonia com a natureza e sendo medido pelo funcionamento integral da comunidade terrestre. O Produto Interno Bruto não pode ser feito à custa do Produto Terrestre Bruto. Aqui está o nosso pecado original.
Esquecemos que estamos dentro de um processo único e universal –a cosmogênese– diverso, complexo e ascendente. Das energias primordiais chegamos à matéria, da matéria à vida e da vida à consciência e da consciência à mundialização. O ser humano é a parte consciente e inteligente deste processo. É um evento acontecido no universo, em nossa galáxia, em nosso sistema solar, em nosso Planeta e nos nossos dias.
A premissa central do Ecozóico é entender o universo enquanto conjunto das redes de relações de todos com todos. Nós humanos, somos essencialmente, seres de intrincadíssimas relações. E entender a Terra com um superorganismo vivo que se autorregula e que continuamente se renova. Dada a investida produtivista e consumista dos humanos, este organismo está ficando doente e incapaz de “digerir” todos os elementos tóxicos que produzimos nos últimos séculos. Pelo fato de ser um organismo, não pode sobreviver em fragmentos mas na sua integralidade. Nosso desafio atual é manter a integridade e a vitalidade da Terra. O bem-estar da Terra é o nosso bem-estar.
Mas o objetivo imediato do Ecozóico não é simplesmente diminuir a devastação em curso, senão alterar o estado de consciência, responsável por esta devastação. Quando surgiu o cenozóico (a nossa era há 66 milhões de anos) o ser humano não teve influência nenhuma nele. Agora no Ecozóico, muita coisa passa por nossas decisões: se preservamos uma espécie ou um ecossistema ou os condenamos ao desaparecimento. Nós copilotamos o processo evolucionário.
Positivamente, o que a era ecozóica visa, no fim das contas, é alinhar as atividades humanas com as outras forças operantes em todo o Planeta e no Universo, para que um equilíbrio criativo seja alcançado e assim podermos garantir um futuro comum. Isso implica outro modo de imaginar, de produzir, de consumir e de dar significado à nossa passagem por este mundo. Esse significado não nos vem da economia, mas do sentimento do sagrado face ao mistério do universo e de nossa própria existência. Isto é a espiritualidade.
Mais e mais pessoas estão se incorporando à era ecozóica. Ela, como se depreende, está cheia de promessas. Abre-nos uma janela para um futuro de vida e de alegria. Precisamos fazer uma convocação geral para que ela seja generalizada em todos os âmbitos e plasme a nova consciência.
Leonardo Boff é teólogo, filósofo e escritor

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Tunísia, Egito, Marrocos...Essas “ditaduras amigas”


Os nossos meios de comunicação e jornalistas não insistiram durante décadas que esses dois “países amigos”, Tunísia e Egito, eram “Estados moderados”? A horrível palavra “ditadura” não estava exclusivamente reservada no mundo árabe muçulmano (depois da destruição da “espantosa tirania” de Saddam Hussein no Iraque) ao regime iraniano? Como? Havia então outras ditaduras na região? E isso foi ocultado pelos meios de comunicação de nossa exemplar democracia? O artigo é Ignacio Ramonet.
Uma ditadura na Tunísia? No Egito, uma ditadura? Vendo os meios de comunicação se esbaldarem com a palavra “ditadura” aplicada a Tunísia de Bem Alí e ao Egito de Moubarak, os franceses devem estar se perguntando se entenderam ou leram bem. Esses mesmos meios de comunicação e esses mesmos jornalistas não insistiram durante décadas que esses dois “países amigos” eram “Estados moderados”? A horrível palavra “ditadura” não estava exclusivamente reservada no mundo árabe muçulmano (depois da destruição da “espantosa tirania” de Saddam Hussein no Iraque) ao regime iraniano? Como? Havia então outras ditaduras na região? E isso foi ocultado pelos meios de comunicação de nossa exemplar democracia? Eis aqui, em todo caso, um primeiro abrir de olhos que devemos ao rebelde povo da Tunísia. Sua prodigiosa vitória liberou os europeus da “retórica hipócrita de ocultamento” em vigor em nossas chancelarias e em nossa mídia. Obrigados a tirar a máscara, simulam descobrir o que sabíamos há algum tempo (1), a saber, que as “ditaduras amigas” não são mais do que isso: regimes de opressão.

Sobre esse assunto, os meios de comunicação não têm feito outra coisa do que seguir a “linha oficial”: fechar os olhos ou olhar para o outro lado confirmando a ideia de que a imprensa só é livre em relação aos fracos e aos povos isolados. Por acaso Nicolás Sarkozy não teve a altivez de assegurar que na Tunísia “havia uma desesperança, um sofrimento, um sentimento de angústia que, precisamos reconhecer, não havíamos apreciado em sua justa medida”, ao se referir ao sistema mafioso do clã Ben Alí-Trabelsi?

“Não havíamos apreciado em sua justa medida...” Em 23 anos...Apesar de contar, neste país, com serviços diplomáticos mais prolíficos que os de qualquer outro país...Apesar da colaboração em todos os setores da segurança (polícia, inteligência...) (2). Apesar das estâncias regulares de altos responsáveis políticos e midiáticos que estabeleciam ali descomplexadamente seus locais de veraneio...Apesar da existência na França de dirigentes exilados da oposição tunisiana, mantidos marginalizados como pesteados pelas autoridades francesas e com acesso proibido durante décadas aos grandes meios de comunicação... Democracia ruinosa...

Na realidade, esses regimes autoritários foram (e seguem sendo) protegidos de modo complacente pelas democracias europeias, que desprezaram seus próprios valores sob o pretexto de que constituíam baluartes contra o islamismo radical (3). O mesmo argumento cínico usado pelo Ocidente durante a Guerra Fria para apoiar ditaduras militares na Europa (Espanha, Portugal, Grécia e Turquia) e na América Latina, pretendendo impedir a chegada do comunismo ao poder.

Que formidável lição das sociedades árabes revolucionárias aqueles que, na Europa, os descreviam em termos maniqueístas, ou seja, como massas dóceis submetidas a tiranos orientais corruptos ou como multidões histéricas possuídas pelo fanatismo religioso. E agora, de repente, elas surgem nas telas de nossos computadores e televisores (conferir o admirável trabalho da Al-Jazeera), preocupadas com o progresso social, não obcecadas pela questão religiosa, sedentas de liberdade, cansadas da corrupção, detestando as desigualdades e reclamando democracia para todos, sem exclusões.

Longes das caricaturas binárias, esses povos não constituem de modo algum uma espécie de “exceção árabe”, mas sim se assemelham em suas aspirações políticas ao resto das ilustradas sociedades urbanas modernas. Um terço dos tunisianos e quase um quarto dos egípcios navegam regularmente pela internet. Como afirma Moulay Hicham El Alaoui: “Os novos movimentos já não estão marcados pelos velhos antagonismos como anti-imperialismo, anticolonialismo ou antisecularismo. As manifestações na Tunísia e no Egito são, até aqui, desprovidas de todo simbolismo religioso. Constituem uma ruptura geracional que refuta a tese do excepcionalismo árabe. Além disso, esses movimentos são animados pelas novas metodologias de comunicação da internet. Eles propõem uma nova versão da sociedade civil, onde o rechaço ao autoritarismo anda de mãos dadas com o rechaço à corrupção” (4).

Especialmente graças às redes sociais digitais, as sociedades da Tunísia e do Egito se mobilizaram com grande rapidez e puderam desestabilizar o poder em tempo recorde. Ainda antes de os movimentos terem a oportunidade de “amadurecer” e favorecer a emergência de novos dirigentes entre eles. É uma das raras ocasiões onde, sem líderes, sem organizações dirigentes e sem programa, a simples dinâmica da exasperação das massas bastou para conseguir o triunfo da revolução. Trata-se de um momento frágil e, sem dúvida, as grandes potências já estão trabalhando, especialmente no Egito, para que “tudo mude sem que nada mude”, segundo o velho adágio de O Leopardo. Esses povos que conquistaram sua liberdade devem lembrar a advertência de Balzac: “Se matará a imprensa assim como se mata um povo, outorgando-lhe a liberdade” (5). Nas “democracias vigiadas” é muito mais fácil domesticar legitimamente um povo do que nas antigas ditaduras. Mas isso não justifica sua manutenção. Nem deve ofuscar o ardor de derrubar uma tirania.

A derrocada da ditadura na Tunísia foi tão veloz que os demais povos magrebinos e árabes chegaram à conclusão de que essas autocracias – as mais velhas do mundo – estavam na verdade profundamente corroídas e não eram, portanto, mais do que “tigres de papel”. Esta demonstração está ocorrendo também no Egito.

Daí esse impressionante levante dos povos árabes, que leva a pensar inevitavelmente no grande florescimento das revoluções europeias de 1848, na Jordânia, Iêmen, Argélia, Síria, Arábia Saudita, Sudão e também no Marrocos.

Neste último país, uma monarquia absoluta, na qual o resultado das “eleições” (sempre viciado) é decidido pelo soberano, que designa segundo sua vontade os chamados ministros “da soberania”, algumas dezenas de famílias próximas ao trono continuam controlando a maioria das riquezas (6). Os telegramas divulgados por Wikileaks revelaram que a corrupção chega a níveis de indecência descomunal, maiores que os encontrados na Tunísia de Ben Alí, e que as redes mafiosas teriam todas como origem o Palácio. Trata-se de um país onde a prática da tortura está generalizada e o amordaçamento da imprensa é permanente.

No entanto, como na Tunísia de Ben Alí, esta “ditadura amiga” se beneficia da grande indulgência dos meios de comunicação e da maior parte de nossos responsáveis políticos (7), os quais minimizam os sinais do começo de um “contágio” da rebelião. Quatro pessoas se imolaram, incendiando suas próprias vestes. Produziram-se manifestações de solidariedade com os rebeldes da Tunísia e do Egito em Tânger, Fez e Rabat (8). Acossadas pelo medo, as autoridades decidiram subvencionar preventivamente os artigos de primeira necessidade para evitar as “rebeliões do pão”. Importantes contingentes de tropas do Saara Ocidental teriam sido deslocados aceleradamente para Rabat e Casablanca. O rei Mohamed VI e alguns colaboradores teriam viajado a França no dia 29 de janeiro para consultar especialistas em ordem pública do Ministério do Interior francês (9).

Ainda que as autoridades desmintam as duas últimas informações, está claro que a sociedade marroquina está seguindo os acontecimentos da Tunísia e do Egito, com excitação. Preparados para unir-se ao impulso de fervor revolucionário e quebrar de uma vez por todas as travas feudais. E para cobrar todos aqueles que, na Europa, foram cúmplices durante décadas dessas “ditaduras amigas”.

NOTAS

(1) Ler, por exemplo, de Jacqueline Boucher "La société tunisienne privée de parole" e de Ignacio Ramonet "Main de fer en Tunisie", Le Monde Diplomatique, de fevereiro de 1996 e de julho de 1996, respectivamente.

(2) Quando Mohamed Bouazizi se imolou incendiando-se em 17 de dezembro de 2010, quando a insurreição ganhava todo o país e dezenas de tunisianos rebeldes continuavam caindo sob as balas da repressão, o prefeito de Paris, Bertrand Delanoé, e a ministra de Relações Exteriores, Michèle Alliot-Marie consideravam absolutamente normal ir festejar alegremente em Tunis.

(3) Ao mesmo tempo, Washington e seus aliados europeus, sem aparentemente medir as contradições, apoiam o regime teocrático e tirânico da Arábia Saudita, principal sede do islamismo mais obscurantista e mais expansionista.

(4) http://www.medelu.org/spip.php?article711

(5) Honoré de Balzac, Monographie de la presse parisienne, Paris, 1843.

(6) Ler Ignacio Ramonet, "La poudrière Maroc", Mémoire des luttes, setembro 2008. http://www.medelu.org/spip.php?article111

(7) Desde Nicolas Sarkozy até Ségolène Royal, passando por Dominique Strauss-Kahn, que possui um “ryad” em Marrakesh, os dirigentes políticos franceses não têm o menor escrúpulo em passar suas férias de inverno entre estas “ditaduras amigas”.

(8) El País, 30 de janeiro de 2011- http://www.elpais.com/Manifestaciones/Tanger/Rabat

(9) Ler El País, 30 de janeiro de 2011 http://www.elpais.com/..Mohamed/VI/va/vacaciones y Pierre Haski, "Le discret voyage du roi du Maroc dans son château de l´Oise", Rue89, 29 de janeiro de 2011. http://www.rue89.com/..le-roi-du-maroc-en-voyage-discret...188096
http://www.elpais.com/Manifestaciones/Tanger/Rabat

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Os militantes esperam nas coxias

Syed Saleem Shahzad

1/2/2011, Syed Saleem Shahzad, Asia Times Online
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu
Syed Saleem Shahzad é editor-chefe da sucursal de Asia Times Online no Paquistão

ISLAMABAD. Não há força de oposição no Egito, ainda que se considere a Fraternidade Muçulmana, suficientemente organizada, nesse ponto, para assumir o poder no caso de as manifestações públicas em marcha nas principais cidades do Egito levar ao fim do governo de Hosni Mubarak e à queda do presidente. 

Até agora, os protestos não apresentaram demandas estruturadas, além de clamarem pela queda de Mubarak, 83, há 30 anos no poder. 

Um dos coringas do drama que se desenrola no Egito – onde um milhão de manifestantes tomam as ruas do Cairo hoje – são os cerca de 15 mil ex-militantes que foram libertados pelas cortes nos últimos dez anos, mas permanecem nas listas de observação dos serviços de segurança e agências de inteligência egípcios. 

“Mártires são necessários para eventos, e eventos são necessários para revoluções. E sem revoluções não há avanço” disse hoje o destacado analista político paquistanês Farrukh Saleem no The News International. “Há revolução quando o descontentamento público leva ao rompimento da ordem estabelecida. As revoluções são espontâneas, com raízes em áreas política e economicamente desassistidas. As revoluções começam fora dos centros de poder, em áreas nas quais o mando do Estado seja fraco; depois, as revoluções movem-se na direção do centro do poder.” 

Os milhares de militantes foram cercados e caçados entre o final dos anos 1990s e o início de 2001 por Omar Suleiman, ex-chefe da inteligência, que essa semana foi nomeado vice-presidente. Se o aparelho de segurança do governo Mubarak entrar em colapso, aqueles militantes bem podem ter o que dizer sobre a direção para a qual o país deve andar. 

A maioria dos militantes pertencem ao grupo al-Gamaa al-Islamiyya e a inúmeras organizações clandestinas que brotaram durante e depois da Jihad afegã contra a União Soviética. Promoveram muita agitação no Egito ao longo dos anos 1980s e 1990s, quando sequestros e ataques a turistas e contra as forças de segurança eram rotina. 

A maioria dos grupos foi brutalmente dizimada pelos serviços de segurança; centenas de militantes foram executados, milhares metidos em prisões e vários milhares foram libertados depois de cenas de arrependimento e confissões públicas, obrigados, mesmo assim a apresentar-se regularmente às autoridades policiais para controle. 

Esses militantes, com possivelmente centenas de outros que escaparam das prisões nos últimos dias, estão agora misturados à multidão pelas praças, com as forças de segurança obrigadas a enfrentar o que muito provavelmente é o maior desafio que jamais enfrentaram no Egito. 

Durante o fim de semana, pela primeira vez desde o início das manifestações, semana passada, apareceu um primeiro sinal de atividade dos militantes islâmicos nas ruas, quando pelo menos quatro prisões foram atacadas e centenas de militantes islâmicos presos foram libertados. É amostra clara da vulnerabilidade de um aparato de segurança conhecido pela brutalidade. 

O exemplo do Paquistão

No início dos anos 2000s no Paquistão, o regime o ex-presidente general Pervez Musharraf atacou duramente organizações militantes como Sepah-e-Sahabah, Harkatul Mujahideen, Laskhar-e-Taiba e Jaish-e-Mohammad. E tomaram-se medidas estritas para evitar que os membros desses grupos se unissem a grupos ligados à al-Qaeda. 

Apesar disso, o início de atividade de guerrilha de baixa intensidade nas áreas tribais do país mobilizou imediatamente aqueles militantes, e não houve mecanismos das estratégias de contraterrorismo que os detivesse e, sim, eles logo apareceram aliados à al-Qaeda para lutar contra oestablishment. 

No Iêmen, o quadro é semelhante. As operações anti-al-Qaeda no início dos anos 2000s praticamente eliminaram a al-Qaeda no país. Mas imediatamente depois que alguns líderes militantes iemenitas escaparam da cadeia, começou a haver atividade de guerrilha de baixa intensidade nas áreas tribais – e essa ação despertou muitas células de militantes adormecidas em todo o Iêmen. 

O Egito tem longa história de militância política de resistência, por mais que tenha permanecido adormecida há muitos anos. 

Emergiram facções militantes imediatamente depois do assassinato de Hasan al-Banna, fundador da Fraternidade Muçulmana, em 1948. O golpe militar e a consequente chegada ao poder do general Gamal Abdel Nasser em 1956, auxiliado por militares ligados à Fraternidade Muçulmana, reunificou a Fraternidade por algum tempo, a qual então se havia dividido em pelo menos três facções. 

Depois, as diferenças que começaram a brotar entre Nasser e a Fraternidade levaram a longo período de repressão, que durou até meados dos anos 1960s, quando a Fraternidade desistiu oficialmente da militância armada e abraçou as vias democráticas. 

No início dos anos 1970s, a Fraternidade Muçulmana e grupos de militância islâmica pareciam relíquias de museu, mas voltaram à vida no final dos anos 1970s e, no início dos anos 1980s já estavam capacitados para, sob o comando de Ayman al-Zawahiri, planejar um golpe de Estado. O golpe falhou por vários motivos, mas os militantes conseguiram assassinar o presidente Anwar Sadat em 1981. 

Estudo atento da história da militância islâmica no Egito mostra que, embora tenha sido esmagada várias vezes, ela sempre renasce, mesmo que depois de muito tempo. 

Depois do assassinato de al-Banna, os movimentos militantes surgiram como reação ao crime. Do final dos anos 1950s até os 1960s, a militância assumiu traços de fundamentalismo extremamente ideológico e declarou que o Egito seria sociedade de hereges. Foi o início de uma rebelião, mas foi controlada até meados de 1970s, quando o reatamento de relações diplomáticas entre Egito e Israel deu novo alento aos militantes, ação que culminou com o assassinato de Sadat. 

A Jihad afegã nos anos 1980s deu nova dimensão à militância islâmica, que trabalhou por uma revolução islâmica no Egito. Mas no início dos anos 2000s, as autoridades outra vez retomaram o controle. 

Agora, aí estão os protestos de massa gigantes no Egito, e a militância pode renascer – dessa vez, com outra dimensão: nos palcos de guerra do Afeganistão e do Iraque, as guerrilhas são lideradas pelo campo egípcio controlado pela al-Qaeda, e o levante nas ruas do mundo árabe pode garantir popularidade sem precedentes ao radicalismo. (Ver “Al-Qaeda's unfinished work” [O trabalho não concluído da Al-Qaeda], 1/2/2011, Asia Times Online, em tradução).
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----- Original Message -----
From: Vila Vudu
 
 
O trabalho não terminado da Al-Qaeda
1/2/2011, Syed Saleem Shahzad, Asia Times Onlinehttp://www.atimes.com/atimes/Middle_East/GA05Ak03.html 



KARACHI. Antes do 11/9, a al-Qaeda era vista, nos círculos de inteligência, como grupo de mercenários, ou máfia, sem a organização sofisticada necessária para organizar grandes ataques como os que atingiram os EUA. Hoje, apesar do que já se sabe sobre as capacidades da al-Qaeda, ainda paira denso mistério sobre sua verdadeira natureza e intenções.

Investigações intensivas em que esse jornal trabalhou durante vários meses, com discussões que incluíram oficiais da inteligência e fontes direta e indiretamente ligadas à al-Qaeda, mostram que nem Iraque, nem Afeganistão, nem Paquistão, nem qualquer outro país do mundo, só os EUA, cultivam tal obsessão monomaníaca em relação à al-Qaeda. O que só se explica se se conhecem os grandes planos da al-Qaeda.

Entra em cena Osama bin Laden
Com quase 1,90m de altura, rico e tratado como membro da família real, Osama bin Laden passou a ser considerado “jovem rebelde” na Arábia Saudita onde nasceu, quando se manifestou contra o rei e o reino, por terem permitido que exércitos ocidentais usassem o território saudita depois da 1ª Guerra do Golfo. Sua família – de alto prestígio e influente no mundo dos negócios – recebeu instruções para convencê-lo a comparecer pessoalmente ante o rei Fahd e suplicar o perdão real. Importantes membros da família real, entre os quais os príncipes Turki e Abdullah, esforçaram-se muito para remendar a situação, sem sucesso.

Foi o começo das muitas interpretações erradas sobre bin Laden e seu grupo. Começou a aparecer como dissidente saudita nos relatórios da inteligência dos EUA, que combatera bravamente no Afeganistão contra os soviéticos nos 1980s e se convertera depois em problema político para a Arábia Saudita.

Os ataques da al-Qaeda contra embaixadas dos EUA na África em 1998 acionaram as percepções dos EUA, que rapidamente concluíram que surgira uma nova aliança do terror no mundo, de olhos postos nos interesses dos EUA. O 11/9 confirmou aquelas piores suspeitas, de forma absolutamente contundente.

Mesmo assim, os políticos nos EUA sabiam praticamente nada sobre as ideias da al-Qaeda, apesar dos milhões de dólares e incontáveis horas de trabalho consumidos e das muitas redes de contraterrorismo que se construíram no mundo.

A evolução da Al-Qaeda
As sementes do que viria a ser o pensamento da al-Qaeda foram plantadas durante a Jihad de uma década contra a ocupação soviética do Afeganistão nos anos 1980s. Os árabes que jorravam no país para unir forças à resistência afegã dividiam-se em dois grandes grupos – ou se uniam aos iemenitas ou se uniam aos egípcios.

Os zelotes religiosos, que partiram para o Afeganistão inspirados pelos clérigos locais juntaram-se aos iemenitas. Treinamento duro, exercícios militares exaustivos, diários, mesmo em tempo de combate, cozinhar a própria comida, dormir imediatamente depois da isha (as últimas orações do dia). Quando a Jihad afegã se aproximava do fim, nos últimos anos da década dos 1980s, esses jihadistas voltaram aos países de origem. Os que não quiseram voltar para as famílias misturaram-se à população afegã ou viajaram para o Paquistão, onde muitos deles casaram e constituíram família. Nos círculos da al-Qaeda eram chamados dravesh – “despreocupados”.

No campo dos egípcios reuniram-se os mais extremamente motivados politicamente e ideologicamente. Embora muitos deles pertencessem à Fraternidade Muçulmana, estavam descontentes com a organização, que insistia na vida eleitoral e nos processos democráticos para mudar a sociedade. A Jihad afegã serviu como poderoso caldo de cultura e substância de coesão para homens desse tipo, muitos dos quais com formação acadêmica, médicos, engenheiros etc. Muitos, também, eram ex-homens do exército egípcio, associados ao movimento egípcio clandestino Jamaatul Jihad, do Dr. Ayman al-Zawahiri (hoje representante de bin Laden) . Esse grupo foi responsável pelo assassinato do presidente Anwar Sadat em 1981, depois de Sadat ter assinado um acordo de paz com Israel em Camp David. Num ponto, contudo, todos concordavam: a causa da desgraça dos árabes eram os EUA e seus governos-aliados, governos-fantoches no Oriente Médio.

Esse campo egípcio era comandado por bin Laden e Zawahiri. À noite, depois da isha, dedicavam-se a longas discussões de problemas contemporâneos no mundo árabe. Lição que os líderes nunca pararam de repetir e que muitos levaram de volta para casa, foi que todos deveriam investir recursos nos exércitos nacionais de seus países, e cultivar ideologicamente os mais inteligentes.

Em meados dos anos 1990s, quando o presidente do Afeganistão professor Burhanuddin Rabbani e seu poderoso ministro da Defesa Ahmed Shah Masoud, autorizaram bin Laden a mudar-se do Sudão para o Afeganistão, o campo egípcio deslocou muitos membros de sua comunidade estratégica em todo o mundo para o Afeganistão, para estruturar e dirigir maaskars (campos de treinamento) locais onde se ensinariam estratégias para a luta futura.

Quando os Talibã emergiram como força no Afeganistão, em meados dos anos 1990s, o campo egípcio já tinha delineadas suas estratégias, as principais das quais são:

– Criticar governos muçulmanos corruptos e despóticos e defini-los como alvos, o que destruirá a imagem deles aos olhos do homem comum – ponto de intersecção entre o Estado, os governantes e a nação. E
– Focar-se no papel dos EUA (que apoiam Israel e todos os tiranos em países do Oriente Médio) e esclarecer essas evidências, o mais possível, para todos.

Os ataques de 1998 às embaixadas dos EUA em Dar es Salaam, Tanzania, e Nairobi, Kenya, foram o começo – como agora se sabe – da ofensiva da al-Qaeda contra os interesses dos EUA. Como retaliação, os EUA lançaram mísseis cruzadores sobre Kandahar e Khost no Afeganistão. Imediatamente, a al-Qaeda constituiu uma força tarefa especial para planejar os ataques do 11/9.

O plano exigiu três anos, mas as discussões continuaram depois do 11/9, entre membros do campo egípcio – que então já eram membros comandantes da al-Qaeda – sobre planos mais amplos, para por de joelhos a única superpotência mundial.

Antes do dia 7/10/2001, quando os EUA invadiram o Afeganistão em retaliação contra os ataques de 11/9, praticamente todos os cérebros da al-Qaeda já haviam deixado o país. Suas missões envolviam vários alvos:
– Educar ideologicamente ‘caras novas’ das comunidades estratégicas, como nas forças armadas e nos círculos de inteligência.
– Arregimentar novos recrutas e criar novas células.
– Cada nova célula teria a tarefa de levantar seus próprios recursos e esboçar um plano. Mas só uma delas implementaria o plano. As demais serviriam como cortina de fumaça para “confundir” as agências de segurança.

Regimes muçulmanos, como alvos
Depois do 11/9, os governos muçulmanos passaram a trabalhar mais ativamente contra a al-Qaeda, e só no Paquistão foram presos mais de 400 militantes. O mesmo aconteceu no Egito, na Síria, na Jordânia, no Iêmen, em Tunis e na Arábia Saudita. Mas nem assim a al-Qaeda lançou qualquer discurso contra governos muçulmanos, até que houve sinais claros de que os EUA atacariam o Iraque.

A colaboração entre governos muçulmanos e os EUA, contra o Iraque, foi considerado momento perfeito para incendiar o ressentimento das massas contra seus respectivos governos que se ligassem em aliança estratégica com os EUA contra países muçulmanos.

Pouco depois de os EUA invadirem o Afeganistão, bin Laden distribuiu a primeira gravação na qual fala contra o governo saudita. “Vocês são fantoches dos EUA e seus pais foram fantoches da Grã-Bretanha. Vocês ajudam os EUA a atacar um país muçulmano e seus pais se rebelaram contra o califato para facilitar a expansão do império britânico no Oriente Médio”.

Nos poucos meses seguintes, Zawahiri falou pela primeira vez contra o presidente general Pervez Musharraf no Paquistão e disse ao povo que derrubasse do poder “o mais íntimo aliado muçulmano dos EUA, em todo o mundo”. Imediatamente depois, grupos pró-al-Qaeda foram estimulados promover ataques na Arábia Saudita e no Paquistão.

Nunca houve razão para a al-Qaeda envolver-se no Iraque. A estratégia na qual trabalharam por mais de uma década jamais sugeriu que enfrentariam o inimigo em campo de batalha. Seu único objetivo é manter ocupado o inimigo, enquanto organizam a resposta muçulmana, de tal modo que, quando outra vez atacarem os EUA, não estarão isolados, não será ataque isolado, e mudarão a história do mundo em maior escala do que no 11/9: o projeto da al-Qaeda é desaparecer nas sombras e deixar que as massas muçulmanas iradas decidam o curso do mundo